quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

BIBLIOTECA INFINITA - Um projecto enriquecedor


    http://alt1040.com/2008/11/la-biblioteca-infinita


Caros Viajantes das Palavras:

“Biblioteca Infinita é um Projecto ligado à promoção do livro e da leitura e em que se procura dar a conhecer aos mais novos os livros que fizeram as delícias dos seus avós, enfim, de livros que saídos do coração de uns, devem agora percorrer caminhos para chegarem ao coração dos mais novos.”

No início do ano propus-lhes a participação neste projecto que me pareceu muito interessante e no qual a Direcção da AUTITV está muito empenhada. Trata-se de uma parceria com a Fábrica das Histórias / Casa Jaime Umbelino, na qual ambas as instituições saem necessariamente enriquecidas, na sua missão de promover a leitura e o diálogo  inter-geracional.

O que se pretende? 
Peço-vos para reverem o texto informativo que distribuí na nossa 3ª sessão e que aqui transcrevo:



BIBLIOTECA INFINITA

Projeto d'A Fábrica das Histórias
           Memórias e notas sobre "O Meu Querido Livro"
Atenção:
      •       Procure na sua memória um livro que a/o tenha marcado na sua infância e
             juventude
       se não tem na sua posse o livro da sua infância, tente procurar numa biblioteca, peça a um amigo ou familiar, procure na Internet ou peça a quem possa fazê-lo por si (por exemplo peça aos seus filhos ou netos para o(a) ajudarem).
       se for totalmente impossível encontrar o seu querido livro enquanto objeto e se considerar que foi muito importante para si e quer partilhar este facto com as crianças de hoje, faça uma pesquisa sobre o livro para procurar responder aos conteúdos das alíneas B,C e D (se for possível) e preencha as alíneas E e F com as suas memórias;
A - Identificação do leitor (dono ou não) do Livro
O meu nome:
A minha morada:
B - Identificação do Livro
Título:
O(s) autor(es):
A editora:
O n2 da Edição:
O local da Edição:
O número de páginas:
A classificação da obra:
Aventura_____ Conto__ Biografia____ Ficção científica  Policial  Romance.
Banda desenhada____ Poesia___________ Outra. Qual   
O local onde se encontra atualmente:
C - Breve síntese sobre o autor do livro
O nome do autor:
O ano de nascimento (e morte se for o caso): A nacionalidade: Exemplos de outras obras:
Informação complementar que contribui para conhecer melhor o autor:
D - Identificação do conteúdo do livro
A minha breve síntese sobre o conteúdo do livro (personagens: quais são; o que fazem; qual é e como é a mais importante...) (local: onde se passa; como é o espaço/lugar...) (tempo: quando acontece...) ( enredo: a ideia principal do livro; outras ideias...) (...)
A identificação e a descrição das citações e/ou excertos mais relevantes para mim

E - "O Meu Querido Livro"
(O ano em que li o livro; a idade que eu tinha quando li o livro; o local onde eu residia quando li o livro; a classe
que eu frequentava; como tive acesso ao livro (oferecido, comprado, emprestado por um amigo, na biblioteca,...);
imagem que guardo do livro (formato, capa, tipo de folhas, colorido ou não, imagens...); o que aprendi com o livro;
quais as "marcas" que me deixou; quais são os meus sentimentos quando penso no livro; o que significa ainda
hoje na minha vida; porque é que o considero "O meu querido livro";..)
F - Desenhar as minhas imagens
As minhas 3 cenas/imagens do livro e as legendas

Obrigado por partilhar o seu querido livro e as suas memórias com os mais novos!
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Recordo:

1 - Este texto é apenas um guião facilitador, não é para ser seguido rigorosamente. Por exemplo: o ponto F destina-se, evidentemente, a quem tem facilidade ou gosto em desenhar...

2 - Este pequeno trabalho que aqui se pede deverá estar concluído em 7 de Março, dia em que mo podem entregar na sessão das Viagens com Palavras.

Vamos a isto?

Obrigado




12ª SESSÃO - 31 Janeiro 2013






  1. HOMERO NA CULTURA OCIDENTAL

                 A ODISSEIA é, com a Bíblia, a obra que mais influenciou a cultura ocidental
                 . Profunda influência na Grécia clássica (Séc. V e IV a C) –Platão, Aristóteles…
                 . Homero educou a Grécia: conceitos: o heroísmo, o carácter, a
                   perseverança,   a tenacidade, a astúcia, a lealdade…

                . A literatura romana tem início com a tradução da Odisseia para Latim.
                  ENEIDA, de Virgílio e METAMORFOSES, de Ovídio ...

                . Época Medieval( séc V a XV): Dante inspira-se nela para A DIVINA COMÉDIA (descida  
                  aos Infernos…)

                . Renascimento (Séc XV/XVI) – Redescoberta da ODISSEIA. OS LUSÌADAS…
                . Séc. seguintes…

2. LEITURA DE EXCERTOS DA ODISSEIA (Edição Livros Cotovia, 2003)













CANTO XVI
VERSOS 213 / 214


«…E Telémaco abraçou
o nobre pai, chorando e vertendo lágrimas… »














CANTO XVII
Verso 291


«…E um cão que ali jazia, arrebitou as orelhas. Era Argos, o cão do infeliz Ulisses…. »










CANTO XIX
versos 104 / 105


«Estrangeiro, esta pergunta te coloco eu em primeiro lugar.
Quem és e donde vens? Qual é a tua cidade? Quem são os teus pais?»





3. LEITURA DE EXCERTOS DO CONTO A PERFEIÇÃO de EÇA DE QUEIROZ
                 













«E ele, sentado num escabelo, estendia as mãos para as iguarias perfeitas… »




















«- Não te lamentes mais, desgraçado, nem te consumas, olhando o mar. »





(…) Mas então recordou que nem beijara a generosa e ilustre Calipso! Rápido, arremessando o manto, pulou através da espuma, correu pela areia e pousou um beijo sereno na fronte aureolada da Deusa. Ela segurou de leve o seu ombro robusto:
   - Quantos males te esperam, oh desgraçado! Antes ficasses, para toda a imortalidade, na minha Ilha perfeita, entre os meus braços perfeitos...
    Ulisses recuou, com um brado magnífico:
    - Oh Deusa, o irreparável e supremo mal está na tua perfeição!
    E, através da vaga, fugiu, trepou sofregamente à jangada, soltou a vela, fendeu o mar, partiu para os trabalhos, para as tormentas, para as misérias - para a delícia das coisas imperfeitas!
                                                                                                              Eça de Queiroz, A Perfeição




quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

11ª SESSÃO - 24 Janeiro 2013


A partir de uma apresentação em Power Point:


  • Calendarização do 2º Período
               Janeiro (24 e 31) -----------------» ODISSEIA, de Homero  
    
               Fevereiro (7 e 21) ----------------» OS LUSÍADAS, de L. Camões

               Fevereiro (28) e Março (7) -----» PEREGRINAÇÃO, de Fernão Mendes Pinto

               Março (14) -------------------------» MOBY DICK, de Herman Melville
           
  • Localização temporal:



  • Primeira abordagem da ODISSEIA
              . A questão da autoria... Homero...
              . Articulação do poema com A ILÍADA na História da Grécia Antiga
              . A figura de Ulisses
              . O mito (a partir do poema Ulisses, da MENSAGEM de Fernando Pessoa); a mitologia
              . Os estudos sobre a Grécia Clássica: Maria Helena da Rocha Pereira e Frederico Lourenço
              . Referência a alguns textos complementares (Pág. 3 deste blogue)
   

               
ULISSES

O mito é o nada que é tudo.
O mesmo sol que abre os céus
É um mito brilhante e mudo -
O corpo morto de Deus,
Vivo e desnudo.

Este, que aqui aportou,
Foi por não ser existindo.
Sem existir nos bastou.
Por não ter vindo foi vindo
E nos criou.

Assim a lenda se escorre
A entrar na realidade,
E a fecunda-la decorre.
Em baixo, a vida, metade
De nada, morre.

Fernando Pessoa
MENSAGEM

* * *
O MITO

Os antigos gregos (séc. VIII a.C.) procuraram explicação para o enigma do Universo.
“Como é que o mundo à nossa volta foi criado? Como é que a sua existência prossegue? Ao princípio são os mitos que respondem a estas interrogações.”
(J. Voilquin, Les Penseurs grecs avant Socrate)

 MITO: «Narrativa lendária ligada à tradição cultural de um povo que explica, através do apelo ao sobrenatural, ao misterioso, a origem do universo, o funcionamento da natureza e os valores básicos desse povo.» (Dicionário Breve da Filosofia, Alberto Antunes et all, Editorial Presença, Lisboa, 1995)
  Exemplo: o mito sebastianista…

* * *

ODISSEIAHistória do regresso de Odisseus (Ulisses) a Ítaca

       Em resumo:



* * * 

A partir da ODISSEIA: referência a dois textos da Literatura Portuguesa:

                           --» O conto A PERFEIÇÃO, de Eça de Queiroz
                           --» O livro de Teodolinda Gersão, A CIDADE DE ULISSES





terça-feira, 29 de janeiro de 2013

UM BOM LIVRO DE INICIAÇÃO






 É uma obra muito útil para abordar de forma rigorosa e bem sustentada um conjunto de livros básicos para a nossa cultura. Pode ler-se na contra-capa:


«BREVE APRESENTAÇÃO

A presente obra consubstancia a memória perene do projecto 10 Livros Que Mudaram o Mundo realizado na Biblioteca Muni­cipal de Oeiras.
Tendo por objectivo promover a ideia de que o livro, enquanto repositório do saber e da memória colectiva, pode ser um instru­mento de transformação do mundo, o projecto 10 Livros Que Mudaram o Mundo, foi concretizado através da realização, ao longo de 2004, de um conjunto de dez conferências que puderam contar com a colaboração de reputados especialistas nacionais.
A tarefa de selecção dos dez livros que iriam ser abordados e a indicação dos respectivos conferencistas foi atribuída a uma Comissão Científica, presidida pelo Sr. Vereador da Cultura e Juventude da Câmara Municipal de Oeiras (Jorge Barreto Xavier), que reuniu personalidades ligadas às principais instituições científicas, académicas e culturais do Concelho de Oeiras, para além de dois convidados a título individual. Dando sequência às escolhas da Comissão Científica foram realizadas dez confe­rências para abordar não dez mas onze livros:

Breve História do Tempo, de Stephen Hawking
Conferência por Carlos Fiolhais

O Príncipe, de Nicolau Maquiavel
Conferência por Adriano Moreira

A Interpretação dos Sonhos, de Sigmund Freud
Conferência por Carlos Amaral Dias

Manifesto do Partido Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels
Conferência por José Pacheco Pereira

Odisseia, de Homero
Conferência por Frederico Lourenço

A Origem das Espécies, de Charles Darwin
Conferência por Luís Vicente

A República, de Platão
Conferência por José Trindade Santos

A Riqueza das Nações, de Adam Smith
Conferência por José Luis Cardoso

0 Erro de Descartes, de António Damásio
Conferência por A. Gonçalves Ferreira

Bíblia e Alcorão
Conferência por Armindo dos Santos Vaz, David Munir e Esther Mucznik

Todas as sessões contaram com uma participação muito signi­ficativa e entusiasta por parte do público que, para além de assistir às conferências, pode usufruir dos materiais de apoio produzidos para o efeito (Guiões de Leitura e Dossier do Professor). A presente obra reúne precisamente os textos produzidos pelos conferencistas e os materiais de apoio. Assim sendo, torna-se possível que todos aqueles que assistiram as sessões possam agora usufruir da versão completa das conferências e dos guiões.
Gostava de terminar deixando aqui um conjunto de agradeci­mentos. Começo por um agradecimento à Fundação Calouste Gulbenkian. 0 projecto 10 Livros Que Mudaram o Mundo foi candidatado pela Câmara Municipal de Oeiras ao Programa de Apoio a Projectos de Promoção da Leitura em Bibliotecas Públicas da Fundação Calouste Gulbenkian, tendo sido aprovado e apoiado financeiramente. Este apoio financeiro foi decisivo para a elevada qualidade com que o projecto foi concretizado.



Gostava também de agradecer a todos os que estiveram direc­tamente envolvidos no projecto. Aos membros da Comissão Científica: Aline Bettencourt (Fundação Marquês de Pombal); Fernando Pinto do Amaral (Faculdade de Letras de Lisboa); Mafalda Lopes da Costa (Directora da Revista Ler); Paulo Costa (Reitor da Universidade Atlântica); Sérgio Gulbenkian (Instituto Gulbenkian de Ciência).
Aos conferencistas: Carlos Fiolhais, Adriano Moreira, Carlos Amaral Dias, José Pacheco Pereira, Frederico Lourenço, Luís Vicente, José Trindade Santos, José Luís Cardoso, António Gonçalves Ferreira, Armindo Vaz, David Munir e Esther Mucznik.»
(Texto da Presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Teresa Pais Zambujo)

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Para o que nos interessa agora, chamo sobretudo a atenção para a conferência sobre a Odisseia, proferida por Frederico Lourenço, bem como para o dossier inserto na segunda parte do livro, com diversos textos, websites e bibliografia sobre Homero e as suas obras.

Ver um pequeno excerto na PÁG. 3


sábado, 26 de janeiro de 2013

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

PARA LER







Novos textos de apoio na Página 3.

Duas sessões são insuficientes para abordarmos um livro como a ODISSEIA. Por isso sugiro que os viajantes das palavras vão fazendo leituras complementares como as que aqui deixei.
Obrigado.








domingo, 20 de janeiro de 2013

MUDANÇA DE CARRUAGEM...


Imagem: http://www.viaarte.org/2011/02/salao-do-automovel.html


                                  * * *

Ei, viajantes: repararam na mudança de cor do blogue? É o que vai acontecer em cada mudança de livro.

Depois de 10 sessões a viajarmos no livro de A. Garrett, é tempo de mudarmos de carruagem.
Vamos entrar nos livros que propus no início do ano para o 2º Período, a saber:

Janeiro ---------» dias 24 e 31: ODISSEIA , de Homero

Fevereiro ------» dias 7 e 21: OS LUSÍADAS, de Luís de Camões

      "       -------» dia 28: PEREGRINAÇÃO, de Fernão Mendes Pinto

Março    --------» dia 7: PEREGRINAÇÃO, de F M Pinto

      "      ---------» dia 14: MOBY DICK, de Herman Melville ( a concluir na 1ª sessão do 3º Período, em
                            4 de Abril)


São abordagens necessariamente concisas, breves apontamentos sobre livros que valem, cada um por si, uma literatura. Motivação para novas leituras do que já se conhece mas esqueceu; ou para  se pegar num grande clássico e lê-lo à luz da nossa experiência de vida.

A completar as sessões ao vivo na AUTITV, irei deixando aqui alguns textos complementares, simples propostas de leitura para apoio e enriquecimento. Podem ser encontrados na PÁGINA 3 do blogue.

Boa viagem!

10ª SESSÃO - 17 JANEIRO 2013


VISITA GUIADA


. Viagem a Santarém pelo percurso das VIAGENS NA MINHA TERRA ( Vila Nova da Rainha, Azambuja, Cartaxo e Vale de Santarém). Ruas de Santarém por onde Garrett andou...

. Visita à casa da Alcáçova - casa de Passos Manuel, agora Fundação Passos Canavarro - e Portas do Sol. Quarto onde Garrett dormiu, varanda de onde avistou o Tejo...





Fotos do blogue 

* * * 

. Alpiarça, (vila onde Passos Manuel também teve uma Quinta) e onde se situa a Casa dos Patudos - Museu de Alpiarça, do grande vulto republicano José Relvas.



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No final da visita guiada, leitura de


TEXTO DE RAMALHO ORTIGÃO SOBRE ALMEIDA GARRETT


«A influência desta grande personalidade essencialmente artística, foi enorme sobre a sociedade portuguesa desde 1820 até 1840. O tempo decorrido, a perspectiva interposta deixa-nos bem apreciar a decisiva acção de tal homem sobre a mentalidade do seu tempo.
Portugal saía apenas dos domínios esmagadores de um re gime despótico e clerical. Vinha embrutecido e estúpido. Os I primeiros clarões da liberdade feriam-lhe a vista e deslum­bravam-no dolorosamente. Vinha de rezar a via sacra pelos claustros das igrejas, vinha de acompanhar os autos-de-fé e as procissões de penitência, vestido de farricoco, arrastando grilhões tenebrosos e mastigando ossos de defunto.
Desde Camões para cá, a arte não tornara a achar uma só nota alegre, penetrante, humana. Os poetas são beatos lacri­mosos ou biltres debochados e sujos. Uma profunda corrup­ção, imunda e hipócrita, de confessionário e de alcova de freira, revolve os costumes da corte e da nobreza atolados na gula fradesca das jeropigas e das marmeladas de Odivelas. O povo tem medo de tudo, e reza; tem medo do rei, tem medo dos corregedores, tem medo dos capitães-mores, tem medo das bruxas e tem medo do diabo. A mulher pertence a três categorias: a freira, a besta de carga e a emissária do de­mónio, encarregada por ele de tentar as almas, segundo os processos explicados pelos Santos Padres. Em 1830, duzen­tos anos de tristeza, de cobardia, de traição, de crápula, pe­sam ainda sobre as nossas almas. O cheiro da pólvora, que se principia a sentir, atenua apenas, mas não destrói o cheiro do bafio de sacristia que se nos pregou à pele.
É no meio dessa sociedade, desbravada apenas da servidão católica-monárquica, devota ainda, mal-humorada e casmur­ra, que Garrett aparece, mensageiro do novo espírito euro­peu.
Foi ele que, de chapéu branco, calças de quadrados, gra­vata encarnada, monóculo no olho, um charuto nos beiços e uma chibata em punho, vergastou as orelhas do Velho Mun­do Português e o obrigou a abrir a primeira garrafa de cham­panhe.
Nós não éramos todos senão uns pobres velhotes; uns gin­jas, uns xexés. Foi ele o primeiro que, por meio dos seus li­vros, nos deitou nos copos e nos fez beber o vinho da moci­dade. E foi depois de reconfortados por esse generoso licor de poesia, que nós aprendemos a estimar a beleza, a amar a |liberdade, a compreender as artes e a querer o progresso.»

(in: FARPAS ESCOLHIDAS, Ramalho Ortigão, selecção e introdução por Ernesto Rodrigues, Biblioteca Ulisseia de Autores Portugueses, s/d, s/l)




quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

9ª SESSÃO - 10 JANEIRO 2013


1. A novela da "Menina dos Rouxinóis", intercalada nas "Viagens..."
    Resumo e linhas de significação.
   
    Leitura de excertos do livro e de um texto de apoio ( J. Tomaz Ferreira) [ver mais abaixo]



2 . O abandono e desleixo a que está sujeito o Património monumental em Portugal. Ver cap. XXXIX
     e XLII das Viagens...

     Ver também:
http://aorodardotempo.blogspot.pt/2010/11/imagens-do-meu-olhar-o-tumulo-do-rei-d.html

     Leitura de algumas passagens das Viagens dos cap. referidos, acompanhadas de imagens
     ilustrativas (PPoint)

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TEXTO DE APOIO



VIAGENS NA MINHA TERRA

A NOVELA DA MENINA DOS ROUXINÓIS

Na casa do Vale vivera uma família de que eram membros Carlos e Joaninha. Primos, ambos foram criados pela avó que tivera a des­dita de perder não só a filha, mãe de Carlos, mas também o filho, pai de Joaninha, e o genro, marido da filha. Na família, e em parti­cular no que dizia respeito a Carlos, tinha grande ascendente Frei Di­nis, um homem que, depois de ter sido grande no mundo, abraçara a religião e doara àquela família os seus bens. Frei Dinis visitava a fa­mília todas as sextas-feiras e mantinha com a velha avó uma estranha relação de tutela. Todo afeito às ideias absolutistas, não conseguiu evitar que Carlos, cuja antipatia por ele era manifesta, emi­grasse para Inglaterra para se juntar às tropas liberais. É por ocasião da chegada, trazida por Frei Dinis, de uma carta de Carlos para Joa­ninha, que Frei Dinis tem com a avó desta uma estranha e longa con­versa de que nasce na velha um choro que provoca a cegueira.
Entretanto, com os sucessos da guerra civil, acontece que Carlos regressa ao Vale, onde reencontra Joaninha. Esta ama o primo e es­perara por ele; este sabe que a ama também, mas reconhece que não era digno daquele amor, pois se ligara a outra mulher. Joaninha tudo adivinha e põe termo ao devaneio.
Numa dura batalha, Carlos é ferido gravemente. Quando volta a si, encontra-se numa cela do convento de Frei Dinis. Ali depara com Georgina, a inglesa que o amava e que, nobremente, o trata, reco­nhecendo embora que o coração dele pertencia a Joaninha, razão que a leva a romper com ele. Mas, pior do que isso, ali toma Carlos conhecimento de que afinal é filho de Frei Dinis, o homem que, an­tes de entrar em religião, amara adulterinamente sua mãe, lhe matara o marido e o pai de Joaninha também.
Na sequência de todas estas revelações, Carlos desaparece. Não matara o frade, como era sua intenção, antes acabara por lhe conce­der o seu perdão. Mas a maldição abate-se, sob a forma de morte, sobre as personagens desta história: Joaninha enlouquece e morre; Georgina converte-se ao catolicismo e morre para o mundo entrando em religião; a avó enlouquece e sofre assim a morte da razão; Carlos sofre a morte moral do homem com ideais que se transforma em agiota: «morreu-lhe o coração para todo o afecto generoso e deu em homem político e agiota» (cap. XXXVI). Só Frei Dinis continua no mundo como figura de tragédia que a morte parece repelir até que expie no sofrimento os seus pecados.

***

Como vemos, o romance compreende duas histórias que se entre­cruzam, cada uma delas com o seu protagonista bem definido. Uma é a história de Frei Dinis. As suas ideias passadistas, a sua condição de frade bem podiam apontá-lo como o símbolo do regime derruba­do. E esse regime ele encarna-o na ideologia que defende e na vee­mência com que se opõe ao avanço das novas ideias. Não se pense, porém, que tinha sido ideia de Garrett desenvolver o fio da história por esta linha simbólica.
A história de Frei Dinis configura uma tragédia humana e é um pouco ao ritmo da tragédia grega que ela se desenrola, não faltando sequer o «Coro» que Frei Dinis de certo modo interpreta ao comen­tar os acontecimentos e ao prevê-los. O papel simbólico da história funcionará mais como nas parábolas, não no paralelismo que passo a passo se podia estabelecer com o real, mas no significado que da globalidade da história se desprende. É aqui que o passo crucial estará si­tuado, no momento em que o herói da ordem nova, Carlos, ao aprestar-se para matar o representante da antiga, se apercebe de que, afinal, ia matar o próprio pai. É como sabemos, a repetição duma si­tuação que Garrett já explorara em O Arco de Santana.
Carlos, por seu lado, protagoniza a outra história, aquela que en­volve a primeira e que, por isso mesmo, assume a categoria de princi­pal. Carlos é um herói romântico e é uma história romântica o que ele protagoniza: a história dum amor desfeito pela excessiva capaci­dade de amar que o protagonista revela. Carlos ama Joaninha, mas ama simultaneamente Georgina: «Oh, Georgina, Georgina, I love you still» (cap. XXXII). Como já amara Laura, e depois dela Júlia. E a todas amara sinceramente. O resultado de tantos amores, fruto de tanto amor, foi uma sementeira de desgraças que em parte já referi­mos.
Mas Carlos, se é o herói romântico, é também a projecção literá­ria do próprio Garrett. Não deixará de ser sintomático a este propó­sito, a nota autobiográfica que o Autor deixa cair no cap. XI, exacta­mente a anteceder a história da «Menina dos Rouxinóis»: «...eu, que já não tenho que amar neste mundo senão uma saudade e uma esperança — um filho no berço e uma mulher na cova?... [...] E posto que hoje, faz hoje um mês, em tal dia como hoje, dia para sempre assinalado na minha vida, me apareceu uma visão, uma visão celeste que me surpreendeu a alma por um modo novo e estranho.»
Há aqui uma referência clara a Adelaide Deville Pastor e à filha que lhe deixou; como há, depois, a referência a Rosa Montufar In­fante, a «visão celeste» que voltou a despertar-lhe o coração que de­vera antes devotar-se ao culto duma saudade e à cura duma esperança. Porque também o coração de Garrett era grande de mais — como o de Carlos (cf. cap. XXXVI).
A ser assim, teremos Garrett, como Carlos, a fazer a sua auto-análise de herói romântico, a reconhecer as suas mazelas e a assumi­-las como se delas pudesse e devesse tirar glória. «Oh! eu sou um monstro, um aleijão moral, deveras, ou não sei o que sou» (cap. XLVI), exclama. Mas a que se deve a monstruosidade? «Deus que me castigue se ousa fazer uma injustiça, porque eu não me fiz o que sou; não me talhei a minha sorte, e a fatalidade que me persegue não é obra minha.»
Assim, pois, na história de Carlos há ainda um duplo drama: aquele que Ioda a gente vê e se traduz nos resultados que enumerá­mos, e o drama oculto que se passa no íntimo do personagem — o drama psicológico duma natureza que se analisa e sofre com o que vai ser, contraposto ao que gostaria de ser: «Eu sim, tinha nascido para gozar as doçuras da paz e da felicidade doméstica; fui criado, estou certo, para a glória tranquila, para as delícias modestas de um bom pai de famílias.» (Cap. XLVIII)

In:
Nota Introdutória de J. Tomaz Ferreira,
VIAGENS NA MINHA TERRA, A. Garrett,
Livros de bolso Europa-América, 7ª ed.,
Mem Martins, 1999




quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

8ª SESSÃO - 3 JANEIRO 2013


1 - Falámos na realização da VIAGEM CULTURAL a Santarém ( Fundação Passos Canavarro) e Alpiarça ( Casa-Museu dos Patudos, de José Relvas), no próximo dia 17 de Janeiro  (ver PÁGINA 2  deste Blog)

2 - Foi distribuída uma ficha de apoio (duas páginas) com um esquema da organização do livro VIAGENS NA MINHA TERRA, (do livro AULA VIVA - Português A - Ensino Secundário - 12º ano, de João Fonseca Guerra e José da Silva Vieira, Porto Editora, 1995):



(clicar para aumentar)


2 - Continuámos a leitura de excertos das VIAGENS...
      Cap. VII:

«O café é uma das feições mais características de uma terra. O viajante experimentado e fino chega a qualquer parte, entra no café, observa-o, examina-o, estuda-o, e tem conhe­cido o país em que está, o seu governo, as suas leis, os seus costumes, a sua religião.
Levem-me de olhos tapados onde quiserem, não me des­vendem senão no café; e protesto-lhes que em menos de dez minutos lhes digo a terra em que estou, se for país sublunar.
Nós entrámos no café do Cartaxo, o grande café do Car­taxo; e nunca se encruzou turco em divã de seda do mais esplêndido café de Constantinopla com tanto gosto de alma e satisfação de corpo, como nós nos sentámos nas duras e ásperas tábuas das esguias banquetas mal sarapintadas que ornam o magnífico estabelecimento bordalengo.
Em poucas linhas se descreve a sua simplicidade clássica: será um paralelogramo pouco maior que a minha alcova; à esquerda, duas mesas de pinho; à direita, o mostrador envi­draçado, onde capeiam as garrafas obrigadas de licor de amêndoa, de canela, de cravo. Pendem do tecto, laboriosa­mente arrendados por não vulgar tesoura, os pingentes de papel, convidando a lascivo repouso a inquieta raça das moscas. Reina uma frescura admirável naquele recinto.
Sentámo-nos, respirámos largo, e entrámos em conversa com o dono da casa, homem de trinta a quarenta anos, de fisionomia esperta e simpática, e sem nada do repugnante vilão ruim que é tão usual de encontrar por semelhantes lugares da nossa terra.
Então que novidades há por cá pelo Cartaxo, patrão?
Novidades! Por aqui não temos senão o que vem de Lisboa. Aí está a Revolução de ontem...
Jornais, meu caro amigo! Vimos fartos disso. Diga-nos alguma coisa da terra. Que faz por cá o...
O mestre J. P., o alfageme?
Como assim o alfageme?
Chamam-lhe o alfageme ao mestre J. P.; pois então! Uns senhores de Lisboa que aí estiveram em casa do Sr. D. puseram-lhe esse nome, que a gente bem sabe o que é; e ficou-lhe, que agora já ninguém lhe chama senão o alfageme. Mas, quanto a mim, ou ele não é alfageme, ou não o há-de ser muito tempo. Não é aquele, não. Eu bem me entendo.”
 (Excerto do Cap. VII das VIAGENS NA MINHA TERRA)


a) Referência às marcas do "romantismo": 
                       - relevância aos ambientes populares
                       - tom coloquial
                       - escolha de um assunto especial, ligado à Idade Média: a figura do alfageme; 
                         ligação à lenda que Garrett utilizou na sua peça O ALFAGEME DE SANTARÉM,   
                         escrita alguns anos antes das Viagens; os valores tradicionais da honra e da 
                         justiça, patentes nessa lenda medieval.
                

     b) Contemporaneidade das VIAGENS:
                            - Leitura comentada de dois textos sobre o tema dos CAFÉS, de autores dos nossos 
                              dias, António José Forte e George Steiner.

«OS CAFÉS | Locais de encontro, de convívio, de crítica, de conspira­ções até, os Cafés de Lisboa contribuíram grandemente para a sobrevivência de uma cultura à margem da cultura oficial.
Nos Cafés, apesar da vigilância fascista sempre presente, falava-se, discutia-se, por vezes sem quase prudência. Desde a anedota política, passando pelas teses sobre arte e literatura, até ao plano acabado de Revolução, tudo os Cafés possibi­litaram.
Palavras ausentes da Imprensa e da Rádio, palavras rigo­rosamente proibidas pela polícia faziam parte do vocabulário quotidiano das conversas dos Cafés.
Numa época em que o acesso ao livro normal era difícil e perigosa a leitura da obra revolucionária, os Cafés, através dos seus frequentadores, proporcionaram que títulos não fos­sem esquecidos e temas novos conhecidos e discutidos. Na maior parte dos casos conheciam-se os livros, menos pela lei­tura directa do que pela informação prestada por um amigo, às vezes por um conhecido de ocasião.
Os Cafés foram, de certo modo, centros naturais e espon­tâneos de uma resistência mental activa.
Talvez se pudesse falar mesmo de uma cultura oral, ur­bana, nascida e desenvolvida nos Cafés.
Os revolucionários de Café, os políticos de Café, os intelectuais de Café, foram expressões utilizadas sobretudo com o objectivo de minimizar uma forma de vida, incipiente, é certo, mas persistente e livre.
Afinal, num meio asfixiante, numa cidade policiada em todos os sentidos, foram desses revolucionários, políticos e intelectuais ditos de Café que saíram verdadeiros revolucio­nários, políticos e intelectuais.
A palavra, o pensamento estavam nos Cafés.»

António José Forte, UMA FACA NOS DENTES,      
Parceria A.M. Pereira, 2ª ed. Lisboa, 2003


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        «A Europa é feita de cafetarias, de cafés. Estes vão da cafetaria preferida de Pessoa, em Lisboa, aos cafés de Odessa frequentados pelos gangsters de Isaac Babel. Vão dos cafés de Copenhaga, onde Kierkegaard passava nos seus passeios concentrados, aos balcões de Palermo. Não há cafés antigos ou definidores em Moscovo, que é já um subúrbio da Ásia. Poucos em Inglaterra, após um breve período em que estiveram na moda, no século xvin. Nenhuns na América do Norte, para lá do posto avançado galicano de Nova Orleães. Desenhe-se o mapa das cafetarias e obter-se-á um dos marcadores essenciais da «ideia de Europa».
O café é um local de entrevistas e conspirações, de debates intelectuais e mexericos, para o flâneur e o poeta ou metafísico debruçado sobre o bloco de apon­tamentos. Aberto a todos, é todavia um clube, uma franco-maçonaria de reconhecimento político ou ar-tístico-literário e presença programática. Uma chá­vena de café, um copo de vinho, um chá com rum assegura um local onde trabalhar, sonhar, jogar xa­drez ou simplesmente permanecer aquecido durante todo o dia. É o clube dos espirituosos e a poste-restante dos sem-abrigo. Na Milão de Stendhal, na Veneza de Casanova, na Paris de Baudelaire, o café albergava o que existia de oposição política, de libe­ralismo clandestino. Três cafés principais da Viena imperial e entre as guerras forneceram a agora, o locus da eloquência e da rivalidade, a escolas adversárias de estética e economia política, de psicanálise e filosofia. Quem desejasse conhecer Freud ou Karl Kraus, Musil ou Carnap, sabia precisamente em que café procurar, a que Stammtisch tomar lugar. Danton e Robespierre encontraram-se uma última vez no Procope. Quando as luzes se apagaram na Europa, em Agosto de 1914, Jaurès foi assassinado num café. Num café de Gene­bra, Lenine escreveu o seu tratado sobre empiriocriticismo e jogou xadrez com Trotsky.

Note-se as diferenças ontológicas. Um pub inglês e um bar irlandês têm a sua própria aura e mitolo­gias. O que seria da literatura irlandesa sem os bares de Dublin? Onde, a não existir o Muséum Tavern, teria o Dr. Watson encontrado Sherlock Holmes? Mas estes estabelecimentos não são cafés. Não têm mesas de xadrez, não há jornais à disposição dos clientes, nos seus suportes próprios. Só muito recentemente o próprio café se tornou hábito público na Grã--Bretanha, e mantém o seu halo italiano. O bar ame­ricano desempenha um papel vital na literatura ame­ricana e em Eros, no carisma icónico de Scott Fitzgerald e Humphrey Bogart. A história do jazz é inseparável dele. Mas o bar americano é um santuá­rio de luzes desmaiadas, muitas vezes de escuridão. Vibra com música, muitas vezes ensurdecedora. A sua sociologia e o seu tecido psicológico são permeados pela sexualidade, pela presença — desejada, sonhada ou real — de mulheres. Ninguém redige tomos fenomenológicos à mesa de um bar americano (cf. Sartre). As bebidas têm de ser renovadas, se o cliente quiser continuar a ser desejado. Há «seguranças» que expulsam os indesejáveis. Cada uma destas caracterís­ticas define uma ética radicalmente diferente daquela do Café Central ou do Deux Magots ou do Florian.
«Haverá mitologia enquanto existirem pedintes», de­clarou Walter Benjamin, um connaisseur apaixonado e peregrino de cafés. Enquanto existirem cafetarias, a «ideia de Europa» terá conteúdo.»

Georges Steiner, A IDEIA DE EUROPA
Gradiva, Lisboa, 2005