terça-feira, 21 de maio de 2013

UM FORMOSO LIVRO







Nos séculos XVIII e XIX Portugal foi destino turístico muito procurado pelos europeus em geral e ingleses em particular. O fausto da corte de D. João V e o terrível terramoto de 1755 atraíram os viajantes de Setecentos; os ecos da Guerra Peninsular bem como as crescentes facilidades de transportes trouxeram os turistas de Oitocentos. Para os ingleses acrescia a prosápia de se sentirem senhores em protectorado político e económico - daí os seus relatos não raro caluniosos e eivados de preconceito para com os bárbaros do sul. 





Ao contrário dos escritos da maioria dos ingleses que andaram por Portugal e que cederam ao erro tão comum de generalizar a toda a população uma impressão particular ou um acontecimento fortuito, o livro de Lady Jackson A FORMOSA LUSITÂNIA é um relato curiosíssimo de alguém que soube respeitar o país que visitou e que o olhou com sensibilidade e abertura de espírito. Sem deixar de ser crítica, soube enquadrar o que observou nas contingências de um país sem recursos e que mal saíra de um longo período de conflitos – a Guerra Peninsular e a Guerra Civil. Foi seu propósito expresso “combater a arrogante, desdenhosa e ignorante opinião que os ingleses tinham de Portugal como um país atrasado, retrógrado, inculto.”
Um dos aspectos mais atraentes da edição portuguesa, publicada em 1878, três anos depois da primeira edição em Inglaterra, é a tradução da autoria de Camilo Castelo Branco. O grande prosador censura alguns deslizes e excentricidades da autora, em notas bem-humoradas, por vezes no seu jeito sarcástico, mas reconhece e enaltece a validade e interesse da obra. A edição de que nos servimos, de 2007, respeita integralmente a primeira, incluindo as 21 gravuras da época, de que reproduzimos a que representa o Cais do Sodré naquela época


Para os interessados: A FORMOSA LUSITÂNIA – Portugal em 1873, Catherine Charlotte Jackson; tradução e notas de Camilo Castelo Branco, edição Caleidoscópio, Casal de Cambra, 2007



Texto da contra-capa: 

Em Julho de 1873, proveniente de Londres, desembarcava em Lisboa a inglesa Lady Jackson. Demorar-se-ia por Portugal até Outubro do mesmo ano e, ao partir, não foi sem saudades profundas que disse adeus à Formosa Lusitânia. De volta a Inglaterra publica, logo no ano seguinte, Fair Lusitânia, que, apenas três anos volvidos, mereceu tradução de um dos maiores vultos das letras portuguesas oitocentistas, Camilo Castelo Branco, um conhecedor das narrativas produzidas por viajantes estrangeiros em Portugal. Na Advertência e nas deliciosas notas que acompanham a sua tradução, Camilo, reconhecendo embora que se trata de "um livro digno e honrado", não deixa de criticar, corrigir e comentar os erros, "inexactidões" e "excentricidades" contidos na obra, muitas vezes com ironia e sarcasmo. Curiosamente, tendo tido acesso à tradução portuguesa do seu relato, Lady Jackson defendeu-se das críticas maliciosas de Camilo em carta dirigida ao romancista, com data de 19 de Janeiro de 1879, e que aqui se publica pela primeira vez. A história da literatura de viagens sobre Portugal de autoria britânica também se conta no feminino. Acompanhemos, pois, o olhar que Lady Jackson lançou sobre a realidade portuguesa no reinado de D. Luís, o relato das experiências que viveu e das recordações que guardou - porque toda a escrita de viagem resulta, ao mesmo tempo, de uma viagem no espaço geográfico e de uma viagem pela memória.  



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